Eu sonhei com os números e eles me cercavam, me punham
contra a parede, me algemaram e, sem direito a respostas, detido, ouvi as
acusações. Eu estava condenado à estatística, contas a pagar, calendário do mês, idade,
cifras, distâncias, medidas, peso, temperaturas, cálculos, pressão arterial, relógio
na parede, agenda telefônica, CPF, identidade, senha de cartão, número do
prédio, andar, endereço e placas de automóveis.
Nada mais pude ver a não ser um
tornado de números sugando tudo da terra e, em coro, ironizavam: você é
quantificável!!!
A lei não difere, no código binário, a tudo quantificável
que a abstração matemática chama de razão. Não, não é prisão. É dogma! Um
convite à embriaguez em dígitos numéricos em alto teor de multiplicidade,
grandeza e valor.
Alguns minutos de tevê ligada se revelam: subida
do dólar a tanto; condenação à prisão de um parlamentar a tantos anos; promoção
a tantas prestações com tanto de juros de desconto; de tanto a tanto foi determinada
partida de futebol; centroavante veste camisa número tal e seu contrato de
tantos por mês, a tantos anos de duração. Portanto, o tanto - o número -
presume o todo.
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