Enquanto tenta acompanhar os passos apressados daquele ancião, o homem de nome Justo grita:
__ Ei, ei... senhor, por favor preciso lhe falar algo!!!
__ Não há o que dizer, pode voltar.
__ Mas eu disse a verdade. Só virou abóbora porque passou da meia-noite, não foi culpa minha, ordens são ordens!
Irritado, o ancião se vira e despara em tom firme:
__ Não me venha com essa de "ordens". Já te disse que o "Código da Vince" não era coisa para ser dita, nem aquilo que chamaram de "Inteligência Emocional"...
Interrompido, Justo replica em tom irônico
__ Ah tá... mas bem que o senhor deu umas risadinhas a cada exemplar vendido de "Quem Mexeu no Meu Queijo?"
__ Não me amole, eu não estava sóbrio... humm, já te disse que Gustav Mahler deveria ser encanador e Erick Hobsbawn teria mais chance de ser feliz... ah, sei lá, como vendedor de Acarajé!
__ Mas você disse a mesma coisa com para João Ubaldo Ribeiro, Alain Prost e aquela tal de Gene Tierney.
__ Já falei que escolho a esmo os gênios de nosso mundo, e há de ser assim sempre!!!
__ Mas senhor Acaso!!! Tu não tens critério? Não, não corra! Venha que preciso ainda lhe falar...
__ Não, não, preciso escolher o próximo imortal!
Ao longe a voz ainda ecoa num fade out natural:
__ Senhor Acaso, senhor Acaso, precisas me ouvir... Hugo Chaves não deve morrer agora...
Distante, o Acaso olha para traz, a voz desaparece e só vê mexerem os lábios de Justo sem que som se lhe chegue aos ouvidos.
O Acaso, por acaso, nunca esperou e mais um vira mito no mundo da exclusão em massa. Um desdém aos anônimos. Os gênios estão por toda a parte, com suas habilidades ocultas, com seus talentos enterrados que jamais serão conhecidos nem por quem os possuem: pintores, químicos, arquitetos, políticos, diplomatas, esportistas, professores, admnistradores...
O BB King se nascido no Brasil seria um indigente a empilhar caixas de água sanitária num supermercado qualquer. O acaso tem suas próprias leis, nem sempre justas.
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