O momento da criação parece um sublime encontro entre dois seres, dois "eus", dois mundos: esse material que vejo e o interior, repleto de informações (as apreendidas e as ocultas ainda por nascerem). Esse momento de "dá a luz" é, em si, materializar sentimentos, percepções outrora contidos, escondidos em algum baú dentro de nós. Parece uma tradução de idiomas, do espiritual, da alma, pra linguagem humana dos sons, das letras, dos sentidos.
O que chamam de dom, talento, parece, na realidade, um grande esforço para transpor universos gêmeos tão desiguais: um é sonho, outro realidade; um é físico, outro é reflexo. O espelho embaçado de quem não vive a arte, comtempla-a, reencontra-se num outro ser, uma auto-identificação num paralelismo coincidente. Para quem a faz, uma desnudez, um revelar-se e, de novo, uma tradução de si para o mundo.
A artisticidade plástica do consumismo exacerbado e covarde, por outro lado, é uma abstração facista, onde a imitação, o refrão em coro ascende ao "kitsch", um réquiem ao íntimo particular, o grotesco meio de se vender diversão.
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